Samstag, 17. Juli 2010

Fear of the ight

Far or near
Close to the deepest Fear
Through the darkest Night
Deep into the Room
The Master of the Light
Iluminates the Gloom

Mittwoch, 7. Juli 2010

O CÃO SAQUEADO

RUVAN DE ALMEIDA

Mais que uma rua cruzada por um cão.
Mais que um caqui apunhalado.
Mais que a lingua do cão que te lambeu
e da fonte cor-de-rosa bebeu,
crendo ser fruta de alguma árvore.
Andamos e a paisagem fluía,
Como uma espada de líquido espesso.
Eu, um cão, humilde e espesso
Como árvore sem voz,
roendo o que não tinha,
sabendo da porta sem porta,
que arrombara e não abrira.
Porque na água cor-de-rosa me perdi?
Perdido sem espelho para me enxergar
Perdi-me como a água derramada.
Difícil saber o que é água e o que é lama.
Como um cão que não temia o rio,
calei ao sangrar num canto,
uma voz a me mastigar as patas,
a vida mastigada e não dissolvida,
naquela água macia que amoleceu meus ossos.
Ainda em minha memória, como um cão no bolso
Incomodando o silêncio, o sono, o corpo que sonhou
Os dentes ainda cortando-me a boca
fluindo meu sangue espesso de cão,
de cão faminto e sendento de água cor-de-rosa
fluindo meu sangue de cão, sarnento e aniquilado,
de cão sem plumas.
Páro como um cão apunhalado, 
como um cão humilde e espesso
mais que um cão saqueado,
como um cão que já não anda,
já não late,
escabiótico e humilhado
tombo como um cão,
como um cão assassinado.